- Estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) concluiu que o custo do desmatamento para o agronegócio é maior do que os ganhos ao aumentar áreas de lavoura e pasto;
- O Brasil já tem tecnologia para aumentar a produção de alimentos sem derrubar mais árvores;
- A agricultura regenerativa e a bioindústria são caminhos para produzir sem desmatar.
Se o desmatamento da Amazônia continuar no ritmo atual, o agronegócio vai deixar de ganhar mais de um R$ 1 trilhão até 2050. Essa é a conclusão do estudo “Desmatamento reduz chuvas e receita agrícola na Amazônia brasileira”, publicado no dia 10 na revista científica Nature Communications. Menos árvores significa menos umidade para formar os rios voadores que surgem na floresta amazônica e causam mais de metade das chuvas do centro-sul, onde se concentra cerca de 70% do PIB agrícola do país.
O estudo foi realizado por pesquisadores do Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a Universidade de Bonn, na Alemanha. Durante três anos, a equipe liderada pelo engenheiro florestal Argemiro Teixeira Leite Filho pesquisou o aumento do desmatamento e a diminuição da chuva no período entre 1999 e 2019. E verificou que a cada 10% de desmatamento, a quantidade de chuva anual é reduzida em 49,2 mm ao ano.
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A consequência disso é que o prejuízo causado pelo desmatamento é maior do que os ganhos ao aumentar áreas de lavoura e pasto. Dessa forma, é do interesse do produtor rural controlar o desmatamento e recuperar áreas degradadas.
Pecuária é que mais perde com o desmatamento da Amazônia
Os pesquisadores levaram em consideração o cenário atual de combate ao desmatamento para estimar perdas na produção de carne e de soja até 2050. Segundo a estimativa, a produção de carne perderá US$ 180,8 bilhões (R$ 1,03 trilhão), enquanto a de soja terá perdas de US$ 5,6 bilhões (R$ 32,2 bilhões).
Por outro lado, uma política eficaz de combate ao desmatamento seria capaz de reduzir essas perdas em US$ 19,5 bilhões (R$ 111,15 bilhões).
Desmatamento zero e agro regenerativo
A solução para esse cenário começa em considerar a meta do desmatamento zero uma política a favor do agronegócio. O Brasil já tem meios para aumentar a produção de alimentos sem a derrubada de florestas.
Para isso é necessário adotar tecnologias poupa-terra que permitam produzir mais alimentos em uma mesma área. Como é o caso do plantio direto, da fixação biológica de nitrogênio e dos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Segundo a Embrapa, essas tecnologias já evitaram a abertura de 71 milhões de hectares apenas para a cultura da soja nos últimos 40 anos.
Outra medida é destinar os mais de 30 milhões de hectares de pastos degradados que o Brasil possui para a agricultura regenerativa. E implantar neles, por exemplo, Sistemas Agroflorestais (SAFs). Também contribuem para esse fim projetos de bioindústria florestal, que preservam a floresta gerando valor econômico para mantê-la em pé.
Essa é a visão de agronegócio sustentável que o AgroReset defende: baseado na preservação de biomas, na bioindústria, nos Sistemas Agroflorestais, nos Sistemas Orgânicos e na agricultura periurbana.
Foto: Visão aérea da fronteira entre o Parque Indígena do Xingu e fazendas de soja na floresta amazônica.