Qual é ou deve ser o futuro do agro brasileiro perante a atual conjuntura da guerra entre Rússia e Ucrânia, que gera uma escassez de fertilizantes em todo o mundo? Em entrevista exclusiva para o agroRESET, Francisco Jardim, sócio-fundador da SP Ventures, comenta a sua visão de um agro mais sustentável e tecnológico, capaz de se adaptar a mudanças no cenário político e econômico global.
Antes da atual crise, o agro brasileiro já precisou se adaptar ao cenário da pandemia de Covid-19 e conseguiu se sair bem nesses tempos de incertezas.
“A pandemia já foi uma demonstração de como o nosso agro é resiliente. A gente teve o cancelamento das feiras, choques na cadeia de suprimento. E em março de 2020 o Brasil exportou 50% mais soja do que um ano antes. E a gente bateu diversas vezes, em 2020, recordes de exportação de carne bovina. Então, o Brasil já tinha se mostrado um país confiável para abastecer o planeta durante o ambiente de extremo estresse que foi a pandemia”, diz.
E agora, neste fim de pandemia, o Brasil enfrenta também a crise de escassez de fertilizantes, um dos principais custos do produtor rural. O que leva ao questionamento de como o Brasil pode se prevenir de problemas apresentados pela globalização e a dependência na cadeia de suprimentos.
O futuro do agro
Como resposta à questão posta acima, Francisco diz:
“A gente [SP Ventures] acredita em uma agricultura nova, mais justa e mais sustentável.”
Por isso, opina que não se deve investir na produção nacional de NPK e outros fertilizantes tradicionais que, em grande parte, têm origem em petróleo. Para ele, o agro deve ser mais tecnológico e enfatiza a importância de investir em produtos biológicos, aproveitando que o Brasil detém 80% da biodiversidade mundial.
“O biológico nada mais é do que encontrar dentro da nossa biodiversidade micro-organismos e macro organismos que ajudem a agricultura a restabelecer um equilíbrio com a natureza e produzir mais. Isso pode ser para [produzir] defensivos, controlar lagartas e doenças, para a saúde do solo e ajudar a planta a absorver mais nutrientes com menos fertilizante químico. Isso tem sido uma área que a gente tem investido bastante.”
Como exemplo, menciona a Solubio, cujo Chief Product Officer, Luiz Pannuti, foi entrevistado pelo agroRESET sobre como a crise dos fertilizantes podem impulsionar a agricultura regenerativa e o uso de biológicos.
“É ESG puro. A Solubio mostra como o nosso agro cria ciência em modelo de negócios inovadores de fronteira aqui. Ela ainda tem uma inovação brutal que é permitir que cada produtor brasileiro se torne uma indústria de biotecnologia”, conclui.
Essa visão está em perfeita sintonia com a visão do agroRESET. Defendemos um agro moderno, fortemente baseado na aplicação da ciência mais avançada para gerar agronegócios inovadores e regenerativos que impulsionem a bioeconomia brasileira.
Essa foi a quarta e última de uma série de matérias baseadas na entrevista de Francisco Jardim para o agroRESET. Leia também as matérias anteriores:
- SPVentures afirma que agenda ESG é central na atuação das AgTechs
- “O desmatamento é a maior ameaça existencial do nosso agronegócio”
- “Há mais tecnologia numa semente de soja do que em um smartphone”
Foto: Drone aplicando fitofarmacêuticos em lavoura. Imagem de DJI-Agras no Pixabay.