Produzido a base de cascas de ovos e telha de amianto, fertilizante utiliza menos água, combate a emissão de gases de efeito estufa e pode minimizar efeito da guerra na Ucrânia
Tornar o Brasil menos dependente da importação de fertilizantes por meio de uma técnica sustentável pode ser possível graças à pesquisa do mestre em química Roger Borges, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O processo utiliza cascas de ovos e telhas de amianto para produzir fertilizante ecológico.
Para transformar as cascas de ovos em fertilizante elas são colocadas em um moinho de esferas de alta energia junto a fosfatos de potássio. A reação forma compostos que fornecem fósforo, cálcio e potássio, essenciais para o desenvolvimento das lavouras. No caso do amianto, considerado um rejeito tóxico, o processo o transforma em um subproduto ecológico depois que é tratado.
O projeto foi desenvolvido no Laboratório de Química de Materiais Avançados (Laqma) da UFPR, sob orientação do professor Fernando Wypych, do Departamento de Química da universidade. Os pesquisadores deram entrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) com dois pedidos de patentes com o objetivo de colocar os fertilizantes no mercado.
Vantagens do fertilizante ecológico
Segundo os pesquisadores, o fertilizante apresenta aproveitamento melhor do que os fertilizantes químicos tradicionais, uma vez que requerem quantidades menores do produto para garantir a mesma produção agrícola.
Por ser um processo a seco, a técnica economiza água e evita a necessidade de etapas de secagem, ao contrário de outros processos que utilizam a água como solvente. Economiza ainda produtos como o calcário, cujas reservas são finitas e devem ser usados por parcimônia e substituídos por insumos renováveis. Apenas em 2020, as lavouras brasileiras usaram mais de 45 mil toneladas de calcário agrícola, grande parte resultante da exploração de reservas do país.
A sua menor solubilidade também combate o problema da eutrofização gerada por produtos convencionais, que deixam as águas turvas, consumindo o oxigênio de rios e lagos e provocando a morte de peixes e outros animais aquáticos. A decomposição de todo esse material orgânico produz mau cheiro, além de gás carbônico e gás metano, principais gases do efeito estufa (GEEs).
Outra característica que torna os fertilizantes mais sustentáveis é a sua liberação controlada, que responde aos estímulos das plantas e mantém teores constantes ao longo do ciclo de produção agrícola. Diferente dos produtos tradicionais que liberam os nutrientes de uma só vez.
O reaproveitamento de materiais é um bom exemplo de economia circular aplicada ao agronegócio sustentável. Retirar resíduos (cascas de ovos) e rejeitos tóxicos (amianto) dos lixões e transformá-los em produtos sustentáveis converte o que seria um impacto socioambiental negativo em positivo.
Importação de fertilizantes aumenta em 2021 e está em risco em 2022
Além dos benefícios para o meio-ambiente, o fertilizante ecológico também tem o potencial de tornar o Brasil menos dependente da importação do insumo. Fato relevante em um momento que se teme o desabastecimento desse tipo de produto devido à guerra entre Rússia e Ucrânia. A Rússia é a maior exportadora mundial de fertilizantes do mundo e a maior fornecedora do Brasil.
Apenas em 2021, a importação de adubos e fertilizantes químicos pelo Brasil no ano passado somou US$ 15,2 bilhões. O que representa um aumento de 90% em comparação a 2020.
De acordo com dados da balança comercial brasileira, da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), os fertilizantes foram os produtos mais importados pelo país, na indústria de transformação. Em termos de quantidade, o Brasil importou 41,5 milhões de toneladas de fertilizantes, com expansão de 22%.
Com informações da Agência Brasil.