Aliando benefícios ambientais, sociais e econômicos, práticas regenerativas estão se tornando o novo padrão; conheça os cases da PepsiCo, Danone, Nestlé e Grupo Scheffer
A agricultura regenerativa aos poucos deixa de ser uma “vanguarda” adotada por pioneiros do desenvolvimento sustentável no agronegócio e passa a se tornar mainstream. Um indicativo disso é a adoção de práticas regenerativas por grandes empresas do setor. Como é o caso das multinacionais PepsiCo, Danone e Nestlé e do nacional Grupo Scheffer.
Esse conceito de agricultura se baseia em técnicas que restauram e mantém o equilíbrio dos ecossistemas, tornando-os resilientes. Entre os resultados almejados estão a melhoria da saúde do solo e das bacias hidrográficas, sequestro de carbono e proteção da biodiversidade. Uma ampla gama de práticas agrícolas podem ser consideradas regenerativas, desde o plantio direto até as agroflorestas.
Cada vez mais, percebe-se ainda que a agricultura regenerativa não é apenas importante para manter o equilíbrio do meio-ambiente e combater as mudanças climáticas. Mas que também reduz custos e maximiza lucros, uma vez que as produções necessitam menos de externalidades como agrotóxicos, fertilizantes químicos e irrigação. Ou, em alguns casos, até eliminam totalmente a necessidade desses recursos.
O Agroreset selecionou quatro cases que ilustram essa tendência global. Veja abaixo.
Até 2030, todas as matérias-primas da PepsiCo terão origem sustentável
Em 20 de abril, a PepsiCo, uma das maiores empresas de alimentos de bebidas do mundo, anunciou a meta de tornar todas as suas matérias-primas 100% de origem sustentável até 2030. Para isso vai implantar práticas de agricultura regenerativa em 2,8 milhões de hectares. O plano estima cortar pelo menos 3 toneladas de emissões de GEE (gases de efeito estufa), o equivalente a 40% das emissões absolutas em toda a sua cadeia de valor.
Desde o final de 2019, todas as batatas fornecidas para a companhia são de origem sustentável. Para garantir isso, todos os produtores da sua cadeia de abastecimento seguem padrões internacionais de práticas sustentáveis no campo.
A empresa assume também metas sociais para melhorar os meios de subsistência de mais de 250.000 pessoas em comunidades agrícolas em todo o mundo. A PepsiCo concentrará seu trabalho nas comunidades agrícolas mais vulneráveis ligadas à sua cadeia de valor global, incluindo pequenos agricultores e trabalhadores agrícolas, mulheres e agricultores minoritários.
Esse é um novo passo do Programa de Agricultura Sustentável (SFP) que a empresa começou a planejar em 2013 e a implementar em 2015. Somente no Brasil são 110 produtores agrícolas de batata e coco envolvidos.
O programa tem o potencial de impactar positivamente o Brasil em larga escala. A Pepsico é um dos maiores compradores de produtos agrícolas do país e responsável por 35% das compras nacionais de batatas. Atualmente, compra 273 mil toneladas de produtos agrícolas por ano de produtores presentes em nove estados: Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Danone
Em março deste ano, a Danone anunciou a intenção de expandir nos próximos anos de 3 para 188 hectares o seu projeto de agricultura regenerativa, o Projeto Flora, que se baseia na integração entre pasto e floresta.
O projeto reduzirá as emissões de gases de efeito estufa da companhia ao reter carbono no solo, o que também melhorará a sua qualidade e resiliência. Outro benefício é proporcionar bem-estar ao animal, que passa a produzir leite de melhor qualidade. Para os produtores da sua cadeia, o projeto deve aumentar a produtividade das suas fazendas e diversificar a sua renda com a venda das culturas plantadas nas áreas de integração entre pasto e floresta.
Nestlé
Como signatária da promessa da ONU ‘Business Ambition for 1.5 ° C’, no final de 2020, a Nestlé se comprometeu a reduzir pela metade as suas emissões até 2030 e atingir zero emissões líquidas até 2050. Seu plano está detalhado no relatório “Nestlé´s Net Zero Roadmap”.
As ações para cumprir esse objetivo estão baseadas em três pilares: 1) plantar centenas de milhões de árvores nos próximos dez anos; 2) completar a transição total para eletricidade 100% renovável; 3) apoiar agricultores e fornecedores de matérias-primas no avanço da agricultura regenerativa. Segundo a própria empresa, mais de dois terços das suas emissões provêm da produção agrícola.
A estratégia é incentivar e apoiar os 500 mil agricultores e 150 mil fornecedores da sua cadeia a implementar práticas de agricultura regenerativa. Em troca, a Nestlé se dispõe a comprar os seus produtos a preços maiores e em maiores quantidades. Assim, pretende adquirir mais de 14 milhões de toneladas de matérias-primas produzidas por meio da agricultura regenerativa até 2030. Para atingir essa meta, serão investidos 3,2 milhões de francos suíços nos próximos cinco anos.
Grupo Scheffer
Pioneiro na produção de grãos na região centro-oeste, o Grupo Scheffer é dono da primeira propriedade rural brasileira certificada por suas práticas de agricultura regenerativa. A certificação foi concedida pela Control Union, que em 2020 lançou o programa “regenagri”, o qual monitora práticas de agricultura regenerativa durante cinco anos, por meio de um hub digital.
O regenagri monitora a Fazenda Três Lagoas, produtora de algodão e soja, no município de Sapezal (MT), propriedade do Grupo Scheffer. Nela, uma equipe especializada desenvolve técnicas de agricultura regenerativa com o objetivo de expandi-las para todas as unidades de produção do grupo.
O que começou com um projeto piloto em uma área de 480 hectares, logo se expandiu para os atuais 4.055 hectares devido aos seus bons resultados. Logo, insetos benéficos, minhocas e fungos do solo reapareceram e, no ciclo 2019/20, foi possível reduzir em 53% a aplicação de químicos nas lavouras de soja e em 34% nas de algodão, sem afetar a produtividade. Isso demonstrou que, além de mais sustentáveis, as práticas regenerativas são mais rentáveis do que as convencionais.
Fontes de informação
http://www.agronegocios.eu/noticias/nestle-apoia-praticas-de-agricultura-regenerativa/