Presidente do açúcar orgânico Native compara onda ESG ao “greenwashing”

Presidente do açúcar orgânico Native compara onda ESG ao “greenwashing”

Para Leontino Balbo, governos e setor privado não fazem o suficiente para impulsionar a transição para a agricultura regenerativa

Cada vez mais se ouve falar em desenvolvimento sustentável, agenda verde, ESG e outros termos relacionados à sustentabilidade. O tema é constantemente abordado por governos, setor privado, terceiro setor e imprensa. Mas isso significa que está havendo uma transição real para uma economia verde e de baixo carbono? Há quem seja cético sobre esse movimento e o agrônomo Leontino Balbo, fundador da marca de produtos orgânicos Native, é um deles.

Em entrevista concedida ao portal Brasil Agro, Balbo afirmou

“A gente precisa parar de fingir. O greenwashing [lavagem verde] está institucionalizado, no Brasil e no mundo, dentro de empresas e governos”.

Balbo tem propriedade para fazer essa alegação. Referência mundial em agricultura sustentável, sua empresa é responsável pela produção de 20% do açúcar orgânico comercializado no mundo. Desde a década de 80, a Native não usa defensivos químicos, nem queima cana na produção da Usina São Francisco, em Sertãozinho (SP).

Como resultado desse esforço, entre outros prêmios e reconhecimentos, a empresa foi incluída pela ONU na lista dos 29 negócios mais sustentáveis do planeta. E a Fundação Ellen MacArthur, referência em economia circular, a considera o projeto mais bem-sucedido em agricultura regenerativa em larga escala do mundo.

O atual modelo agrícola está exaurindo o solo

Em sua entrevista, Balbo critica o atual modelo agrícola e resume o que é dito há muito tempo por defensores da agricultura regenerativa.

“O pulo do gato na agricultura é o solo. Muitos sistemas tradicionais foram capazes de manter por milênios a bioestrutura do solo”, diz.

Contudo, na década de 50 começou a chamada Revolução Verde que usa insumos químicos em larga escala, como defensivos, fertilizantes e adubos. Se por um lado isso possibilitou ampliar a produção para alimentar um mundo em acelerado crescimento populacional, por outro ao longo de décadas esses produtos têm matado as bactérias e insetos que tornam o solo saudável e fértil.

Consequentemente, é preciso usar cada vez mais insumos para manter ou aumentar um pouco a produção, formando um ciclo vicioso que exaure o solo ainda mais.

Além do impacto ambiental, Balbo argumenta que “esse modelo está deixando a produção e a comida mais caras”. Afinal, “você precisa de recursos cada vez mais sofisticados e onerosos para ter o mesmo resultado.”

Governos, empresas e setor financeiro não se mobilizam em prol da agricultura regenerativa

Devido às consequências do atual modelo agrícola, a transição para uma agricultura regenerativa é urgente. Porém, segundo Balbo, apesar dos discursos de governos, as suas ações estão longe de serem efetivas.

“É decepcionante o comportamento em relação a produtos sustentáveis. A gente escuta demais, ‘isso é muito importante, nós temos uma agenda ESG, mas tem um assunto aqui mais urgente para tratar antes’. Tenho dúvidas se esse ESG é sério.”

Balbo tem uma opinião similar ao discurso da empresas do setor alimentício que divulgam suas ações sustentáveis:

“Sabe o que essas empresas de alimentos fazem? Montam uma ONG, que é sustentada pelo lucro do negócio delas, que não é tão sustentável assim, e essa ONG vai lá na África, apoiar um projeto de agricultura familiar. Eu quero ver sustentabilidade com o coração do negócio, na cadeia de valor dessas empresas.”

Faz críticas ainda ao setor financeiro, que na sua opinião falha ao não incentivar uma produção mais sustentável.

“O setor financeiro precisa criar modelos para lidar com a mudança. A transição para a economia mais verde, de verdade, vai demandar capital paciente. Mas hoje o setor financeiro cobra os mesmos juros de quem emite e de quem neutraliza emissões.”

Leontino Balbo exemplifica esse cenário de falta de apoio a um agro ESG com a experiência do próprio setor em que atua:

“O mercado global de açúcar convencional é de 190 milhões de toneladas. O de açúcar orgânico é de 600 mil toneladas. Representa 0,4% comparado ao açúcar convencional. Se as indústrias tivessem interesse genuíno já não era para estar em ao menos em 5%?”, questiona.

Leia a entrevista completa de Leontino Balbo para o Brasil Agro.

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