Pesquisador da Embrapa indica caminhos para o Brasil alimentar o mundo conservando a água e o ambiente
Nos últimos 60 anos, o Brasil saiu da posição de importador de alimentos básicos e se tornou um dos maiores produtores mundiais. Hoje, segundo dados da Embrapa, a produção brasileira é capaz de alimentar 1,2 bilhão de pessoas, aproximadamente 15% da população mundial. Em grande parte, os recursos hídricos do Brasil são responsáveis por esse protagonismo. Quem explica é Julio Palhares, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudoeste, em sua fala durante o painel Flying Rivers of the Amazon, organizado pelo AgroReset para o Water World Forum For Life.
“Dentro dos mais ou menos 200 países que temos no mundo hoje, só esse país chamado Brasil detém 12% da água doce superficial do planeta. (…) Além dessa riqueza hídrica, também temos uma riqueza de solos e uma condição climática muito propícia. Estamos falando de um grande país tropical onde conseguimos produzir, em um ano agrícola, até três safras de grãos”, afirma.
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Julio continua, explicando que a agricultura brasileira é baseada no regime de chuvas. E que, embora a agricultura irrigada responda por parte significativa da produção e possa ser ampliada, a própria irrigação não pode existir se não houver recarga das águas superficiais e subterrâneas por meio das chuvas.
Essa é uma dependência profundamente afetada pelo desmatamento e savanização da Amazônia, que afeta os rios voadores, vitais para o regime de chuvas do Brasil.
“Os efeitos da savanização da floresta amazônica já estão impactando no regime de chuvas, principalmente da região centro-sul do Brasil, onde está localizada a maior parte da nossa produção de alimentos, seja de grãos, seja de proteína animal. (…) Então é fundamental que tenhamos a Amazônia não só como uma reserva ambiental, mas como uma reserva hídrica estratégica para continuarmos a produzir alimentos para o nosso povo e para a população mundial”, diz Júlio.
Plantio Direto e Sistemas Integrados proporcional eficiência hídrica à produção de alimentos
Nesse cenário, é fundamental produzir alimentos com o máximo de eficiência hídrica possível. Eficiência hídrica significa quantos litros de água são utilizados para produzir, por exemplo, um quilo de carne, de grãos ou de hortaliças. Quanto menos água usada, melhor.
O Brasil possui conhecimento e tecnologia para isso. Como é o caso do Plantio Direto e dos Sistemas Integrados, que Júlio menciona como exemplos.
“O Plantio Direto é uma tecnologia hoje muito capilarizada na agricultura brasileira em que nós mantemos a matéria orgânica no solo. Manter a matéria orgânica no solo também significa manter a umidade, então nós podemos a partir de uma prática conservacionista de solo dar mais eficiência hídrica àquele produto.”
“Temos os sistemas integrados, em que produzimos, no mesmo espaço, carne ou leite, grãos e árvores. Tudo isso em uma simbiose onde todos esses elos ganham. Nesse sentido, nós vamos ter um ambiente mais conservado e dar uma maior eficiência hídrica e produtiva a esses sistemas”, completa.
Júlio conclui afirmando que a ciência já provou que é possível produzir alimentos em quantidade e qualidade preservando o meio-ambiente e que as práticas mencionadas podem ser aplicadas desde o pampa gaúcho até o bioma amazônico.
Assista abaixo a fala completa de Júlio Palhares no painel Flying Rivers of The Amazon:
Foto por Mabel Amber no Pexels.