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A Amazônia é o resultado da prática de agroflorestas

A Amazônia é o resultado da prática de agroflorestas

A interferência humana sustentável aumentou a biodiversidade da floresta amazônica, indicam estudos

O senso comum dita que toda a exuberância e biodiversidade da floresta amazônica é fruto dela ter sido mantida intocada pelos homens durante milênios. Porém, descobertas científicas recentes mudaram esse entendimento. A Amazônia atual é resultado da ação humana por povos pré-colombianos que contribuíram para moldar esse ecossistema por meio de práticas de manejo florestal e de agroflorestas.

Essa é uma das conclusões da Dra. Yoshi Maezumi, da Universidade de Exeter (Inglaterra), em seu artigo “The legacy of 4,500 years of polyculture agroforestry in the eastern Amazon” (O legado de 4.500 anos de policultivos agroflorestais na Amazônia Oriental), publicado em 2018 na revista científica Nature Plants. Colaboraram com a pesquisa cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, da Universidade do Estado do Mato Grosso e da Universidade Federal do Pará.

A pesquisa conclui que os povos pré-colombianos viviam em sociedades complexas e praticavam técnicas agrícolas semelhantes ao que hoje se conhece por agroflorestas ou sistemas agroflorestais (SAFs). E que esse fato foi determinante para que a floresta amazônica se formasse tal qual ela é atualmente.

Práticas agroflorestais tradicionais enriqueceram a floresta e produziram alimentos em escala para 7 milhões de indígenas

A pesquisa da Dra. Maezumi indica que milênios atrás povos pré-colombianos praticavam um sistema de agricultura baseado em pequenos desmatamentos e uso controlado do fogo para criar áreas de plantio em consórcio com a floresta, preservando árvores frutíferas, como o cupuaçu e palmeiras. Dessa maneira, o ecossistema sofreu alteração humana, mas de uma maneira sustentável que contribui para a uma biodiversidade ainda mais rica.

Outros estudos indicam que as sociedades indígenas pré-colombianas eram mais complexas e numerosas do que geralmente se imaginava e usavam técnicas agrícolas sustentáveis para produzir alimentos em escala. Estima-se, por exemplo, que antes da chegada dos europeus viviam 6,8 milhões de indígenas na Amazônia, que precisavam produzir uma grande quantidade de alimentos em uma época em que não havia adubos químicos, agrotóxicos ou transgênicos.

Um dos mais relevantes legados desses povos é a Terra Preta de Índio (TPI).

O que é a “terra preta de índio”?

As TPIs são manchas de solo escuro em áreas que variam de um a mais de 350 hectares e até dois metros de profundidade. É um solo escuro rico em nutrientes como cálcio, magnésio, zinco, manganês, fósforo e carbono.

É resultado da ação de povos pré-colombianos há milhares de anos. Sabe-se que eles adotavam o sistema agrícola de derrubada e queimada, descrito anteriormente, e depositavam grandes quantidades de matéria orgânica em locais específicos que depois era queimada em temperaturas relativamente baixas, dando origem à terra preta. 

Nos locais em que ela se encontra podem ser encontrados, por exemplo, pedaços de cerâmica, vestígios de carvão, sementes carbonizadas, ossos de animais, restos de plantas e até urnas funerárias. Há ainda a hipótese de que o processo de cheias e secas dos rios também contribuiu para a sua formação.

A terra preta torna muito fértil o solo da região amazônica, que é naturalmente ácido e desfavorável à agricultura. As regiões ricas nesse solo são mais abundantes em espécies florestais comestíveis, como a castanheira, o cupuaçu e as palmeiras. É uma terra que enriquece a floresta e promove a biodiversidade.

Outro benefício é servir como um depósito de carbono e contribuir com a descarbonização da atmosfera. Em média, ela retém de três a seis vezes mais carbono do que outros tipos de solo.

Atualmente, existem pesquisas sobre como se produzir terra preta rapidamente e em escala. Quando isso for possível, poderá se tornar um produto importante para a agricultura de baixo carbono e ajudará pequenos produtores a ter solos mais férteis, aumentando a sua produção sem o uso de produtos químicos.

A importância de valorizar o conhecimento das comunidades tradicionais

O conhecimento científico do qual se dispõe atualmente permite afirmar que preservar a Amazônia não requer que ela seja mantida intocada. Pelo contrário, a floresta amazônica se tornou tão exuberante e rica em biodiversidade também devido à ação do homem. Contudo, por uma ação ecológica que altera o ecossistema sem destruir os seus ativos naturais.

Isso reforça a importância das agroflorestas regenerativas, que têm ganhado força no Brasil e no mundo. Os sistemas agroflorestais tradicionais já são adotados por povos indígenas há milênios para produzir alimentos em escala considerável e contribuem para enriquecer ainda mais a biodiversidade amazônica.

Essas conclusões também tornam clara a necessidade de se valorizar o conhecimento tradicional dos povos indígenas e ribeirinhos, justamente um dos princípios da bioeconomia florestal. Esses povos souberam criar soluções para alimentar as suas comunidades de maneira sustentável. A sociedade moderna pode aprender com eles tecnologias que, se replicadas de alguma forma, podem contribuir para gerar soluções para problemas modernos. Como é o caso, por exemplo, da Terra Preta de Índio.

Fontes de informação

https://www.nature.com/articles/s41477-018-0205-y
https://florestalbrasil.com/2019/05/amazoniaagriculturaantiga.html
https://dialogochino.net/pt-br/mudanca-climatica-e-energia-pt-br/26853-terra-preta-de-indio-o-legado-de-agricultura-sustentavel-da-amazonia
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6119467
https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/1493237/terra-preta-de-indio-desperta-interesse-da-ciencia-internacional-

http://aspta.org.br/article/terra-preta-de-indio-uma-licao-dos-povos-pre-colombianos-da-amazonia/

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