Conheça esse modelo de agricultura regenerativa que imita o funcionamento das florestas e mantém o equilíbrio ecológico do meio-ambiente
Produzir alimentos saudáveis de maneira sustentável sem causar desmatamento e ainda regenerar áreas degradadas pode parecer um sonho, mas é a realidade das agroflorestas. Você sabe o que elas são?
O que são agroflorestas
Também conhecidas como Sistemas Agroflorestais (SAFs), elas integram os componentes florestal e agrícola ao combinar o cultivo de uma grande diversidade de alimentos em meio a árvores frutíferas ou madeireiras. Em alguns casos, integram também a criação de animais. São ideais para recuperar terras já degradadas pela agricultura tradicional, o desmatamento e a erosão.
Ao imitar ao máximo possível o funcionamento de uma floresta nativa, a agrofloresta se torna um ciclo fechado e resiliente. Que, ao contrário da agricultura tradicional, não precisa de externalidades, como irrigação, agrotóxicos e fertilizantes. O próprio ciclo biológico dela a mantém, como acontece na natureza. Isso permite manter a resiliência do solo, em vez de esgotá-lo e empobrecê-lo.
Entre os benefícios deste sistema incluem-se:
- No aspecto sustentável: captura de carbono, conservação da água, do solo e da biodiversidade, segurança alimentar e nutricional;
- No aspecto social: geração de oportunidades de emprego, renda e qualidade de vida para agricultores familiares (a prática é autorizada pelo novo Código Florestal, de 2012, para restaurar Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal com fins econômicos);
- No aspecto econômico: pode ser até mais lucrativo do que a agricultura tradicional (ver mais abaixo) e contribui para a arrecadação de impostos.
Algumas características essenciais
Segundo a Embrapa, os sistemas agroflorestais combinam o cultivo de elementos perenes, semi-perenes, de ciclo curto e eventuais. Veja abaixo o que isso significa:
Elemento | O que são | Função | Exemplos |
Elementos perenes | Espécies arbóreas ou arbustivas, frutíferas, madeiráveis ou adubadoras | Capturar nutrientes profundos do solo e gerar renda a médio e longo prazo para o produtor | Açaí, cupuaçu, castanheira, seringueira, mogno africano, cacau |
Elementos semi-perenes | Espécies implantadas no início do sistema e permanecem nele por dois ou três anos | Gerar renda a curto e médio | Banana, abóbora, feijão carioquinha |
Elementos de ciclo curto | Componentes agrícolas que geram renda curto prazo | Gerar renda a curto prazo | |
Elementos eventuais | Componentes animais | Diversificar a renda do produtos | Gado |
É possível implantar diversos arranjos de agroflorestas. Alguns se aproximam muito das vegetações nativas, principalmente pela diversidade de espécies cultivadas. Outros são simplificados e conhecidos como policultivos. Neles, algumas culturas são o carro-chefe, como a bananeira ou a seringueira. Enquanto outras, como o cacau e o açaí, complementam a produção e a geração de renda.
Agroflorestas podem ser mais lucrativas do que o agronegócio tradicional
A diversificação é um grande atrativo econômico e financeiro da agrofloresta. Em uma mesma área, o produtor pode lucrar com culturas que dão retorno em diferentes períodos de tempo, como milho, mandioca, feijão, hortaliças, verduras e frutas. Com o tempo, é possível introduzir também a criação de animais, como gado, peixe e galinhas. Além disso, cerca de 30 anos após a implementação do projeto, o produtor também terá madeira de qualidade para comercializar.
Um estudo do WWF indica que as agroflorestas podem ser mais lucrativas do que desmatar para criar gado.
Em parceria com a Universidade Federal do Acre, a Embrapa Acre e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Acre, a ONG testou dois modelos de sistemas agroflorestais em áreas distintas da Reserva Extrativista Chico Mendes (Resex Chico Mendes) e obteve resultados impressionantes em relação ao retorno financeiro. Os projetos envolveram 12 famílias associadas à Cooperacre (Cooperativa Central de Comercialização Agroextrativista do Acre).
Como comparação, considere-se que a rentabilidade da produção de soja varia de R$ de R$ 1.500 a R$ 2.500 por hectare ao ano, dependendo da região. Dos dois sistemas agroflorestais acompanhados pela WWF, um deles obteve rentabilidade de R$ 1.949,61 por hectare. Enquanto o outro chegou a R$ 4.534,13 por hectare. São resultados próximos de outras experiências da mesma região consideradas pelo estudo.
A conclusão do estudo comprova que as agroflorestas combinam a preservação e regeneração do meio-ambiente, a geração de oportunidades e qualidade de vida para o produtor rural e retorno financeiro superior à agricultura tradicional.
Corroborando esse estudo da WWF, uma pesquisa da Universidade de Brasília acompanhou dez agroflorestas ao longo de 10 anos e calculou que todas produziam o mesmo que a média nacional da agricultura.
Como explicado em outro artigo, as agroflorestas regenerativas fazem parte do tripé capaz de tornar o agronegócio sustentável e posicionar o Brasil como protagonista do desenvolvimento sustentável global. Sendo as outras a bioeconomia da floresta e a agricultura orgânica.
O Agroreset sugere que projetos agroflorestais sejam implementados em áreas já degradadas pelo agronegócio tradicional, ou por qualquer outra atividade, como meio de regenerar o meio-ambiente e combater as mudanças climáticas.
Fontes de informação
https://www.instagram.com/p/CA77C5DnJ4o
https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/09/12/agroflorestas-unem-producao-a-natureza-e-superam-renda-da-soja-na-amazonia.htmhttps://aupa.com.br/agroflorestas
http://kaleydos.com.br/agronegocio-de-impacto-socioambiental/
http://kaleydos.com.br/agroflorestas-e-negocios-de-impacto/
http://kaleydos.com.br/economia-da-floresta-em-pe-empreender-preservando-natureza-e-possivel/